segunda-feira, 7 de maio de 2012

segunda-feira, 23 de agosto de 2010 

Obrigado pela declaração minha neguinha.


Hoje acordei tomada pela lembrança de meu pai,
como já aconteceu milhares de outras vezes,
mas sem que escrevesse sobre isso.
Tanto mais difícil.
É uma carta, que creio de alguma forma vai chegar ao destinatário,
levada pela esperança de poder assim tapar alguns buracos,
corrigir algumas falhas,
dizer algumas coisas que não foram ditas.

Na verdade muito ficou por dizer.
Mas nós dois convivemos o bastante para
entendermos razoavelmente um ao outro.
Por vezes o silêncio foi eloquente:
tanto para sufocar a dor, engolir o choro e aceitar teu olhar severo...
Como para confiar, esfriar os ânimos, aquietar.
Calada, como querias; consenti, sem querer.
Bem mais tarde, há pouco tempo,
vim a descobrir que em grande parte das vezes tinhas razão, pai.
Porque agora sou eu a me enraivecer com
as coisinhas de adolescente que assisto,
pequenas teimosias e atitudes inconsequentes que presencio.
Hoje sei que isso não tem nada a ver com liberdade.
É só chantagem, ou como dizias, má-criação.
Sinto falta das conversas na porta de casa.
Tenho saudade dos finais de tarde,
quando colocavas as cadeiras lá fora e nós ficávamos em volta
Lembro-me de como gostavas de trabalhar em casa,
nos pequenos canteiros de verduras e legumes no quintal.
É como se ouvisse agora tua queixa:
“Não tenho mais como saber se os tomates estão verdes ou maduros.
”Hoje consigo ver além do que podem meus olhos, pai,
porque enxergo com a sabedoria de quem viveu ao teu lado.
Não sou como tu, absolutamente.
Mas não seria metade do que sou,
se não fosse por tua causa.
Que saudade de você, te amo tanto meu verdadeiro amor.
Da sua neguinha :*

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